sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Something Else - Parte 2

Os dias se passaram, e Ana, agora sob os olhos atentos do tio, teve paz. A tia, no entanto, aproveitava cada saída do marido para aterrorizar a menina. Chamava-sa de bastarda, dizia que era culpa dela a morte do pai, que ela estava destruindo a família dela como havia destruído a própria, dizia arrepender-se amargamente do dia em que a aceitou dentro desta casa. O tio chegava, a mulher calava-se e a tratava bem, como se nada houvesse sido dito.
Um dia, o tio chegou e foi procurar a menina pra fazer uma surpresa. Supreso ficou ele ao achar a menina no quarto, sentada ao pé da cama, com uma lâmina, cortando sua própria pele. Notou as muitas cicatrizes na coxa da menina que chorava abertamente todas as cicatrizes emocionais. Dona Silvana, preopada com a demora do marido, foi ao quarto da menina já com suspeitas de ela ter seduzido seu marido também. Encontrou os dois sentados no chão, a menina chorando, ainda com as mãos ensangüentadas e o marido a consolando. Pela primeira vez durante esses 6 anos em que a menina esteve em sua casa, Silvana foi solícita. Calada, pegou uma toalha, molhou com a água da pia e pôs-se a estancar os cortes. Chocada com a forma de escape que a sobrinha escolheu. Achou ela que a menina iria escolher algo visível, como olhos vermelhos na presença do tio ou até mesmo algum hematoma, fingido com a ajuda de amiguinhas de escola. Mas não, ela não procurou a atenção do tio. Ela guardou para si mesma toda a tristeza que estava acumulando esses anos. Tristeza esta que eu mesma contribui. Sentiu-se a pior das mulheres. Uma menina! Eu estraguei a vida de uma menina. Que futuro ela terá? Tudo culpa minha. TUDO!
O marido procurou um psicólogo, amigo de farras passadas. Conversaram ele, sua mulher e o psicólogo, sem que a menina soubesse. Levaram-na na semana seguinte, depois da escola temos que ir ver um amigo de seu tio, Ana, ele vai poder te ajudar. Ana não entendia a amabilidade da tia depois de a ver cortando-se. Achou meio absurda a idéia da tia ter algum sentimento por ela. Talvez quisesse impressionar o titio Juca. Talvez. De qualquer forma, foi ao amigo do tio. Primeira vez que ela dizia pra alguém o que houve com ela, o que ela sentia. Foram horas dedicadas só a ela. Sentia-se especial, mas sabia que iria acabar assim que voltasse pra casa. Casa? Não.. não tinha casa. Tinha saudades da mãe, do pai, do tempo em que eram uma família feliz, do tempo que ela tinha uma família.
Já era uma mocinha, agora os meninos estavam atrás dela, não se sentia pronta para um relacionamento. Não queria ser tocada por ninguém. Mas sabia que era uma etapa de sua vida que tinha que ser seguida. Hesitou. Pediu ajuda ao psicólogo, que via todos os dias há 1 ano e meio. Não sabia como agir. Será que realmente gostava desse menino? Não seria só imaginação dela? Seria ele só um a mais pra prejudicá-la? Resolveu ir ao encontro que aceitou com muito medo. O menino, nervoso, suando, alternava o olhar: chão, seus olhos, chão, seus olhos, chão. Ana achou estranho ele não ter se aproximado pra tentar algo com ela. Não via em seus olhos aquele olhar estranho e safado que via nos olhos dos primos. O filme foi bom, ele arriscou pôr seu braço ao redor de Ana, que meio nervosa esperou pra ver o que acontecia. E ali aconteceu. Seu primeiro beijo. Seu primeiro beijo com sentimento. Seu primeiro beijo com sentimento de verdade. Andaram de mãos dadas até a sorveteria. Conversaram bobagens, bobagens essas que ela tentou muito lembrar ao chegar em casa pra contar ao tio, mas fugiram da memória.
O tio muito feliz, foi contar à esposa. Vandinha, nossa filha amou o encontro. Silvana ignorou o "filha", que antes a fazia ignorar o marido. Ficou feliz, radiante. Foi correndo saber os detalhes tanto do encontrou quanto do menino.


TO BE CONTINUED...