domingo, 8 de julho de 2007

Na calada da noite, o mundo é visto com outros olhos.

Era madrugada, um vento frio roçava em minhas costas, um latido ao longe mostrava que ainda existia vida nesse lugar abandonado por Deus. Resolvi procurar alguém pra mostrar-me um caminho a seguir. Só queria sair desse ambiente um tanto quanto assustador.
Vi uma menina ao longe, ela brincava com uma boneca suja de alguma substância vermelha. A boneca era levada pra trás e pra frente pela bela menina que orientava a boneca murmurando uma música que eu não reconhecia. Levantou-se imadiatamente ao perceber minha presença. E com um sorriso, ao meu ver, um pouco malígno, saiu correndo em busca talvez de sua mãe.
Fui atrás dela como se ela fosse minha última esperança. Ela corria muito rápido e eu já não tinha mais o porte físico do atleta que um dia fui.
Finalmente perdi a criança de vista, só sabia que ela tinha entrado num corredor e quando dei por mim, ela já não estava mais lá. Mais uma vez sozinho saí em busca de alguma alma caridosa que pudesse pelo menos me dar um copo de água, nossa que sede!
Sentei numa cadeira, ela estava no meio do que parecia ser uma estrada que não levava a lugar nenhum e vinha não sei de onde.
Pude então perceber onde eu estava, como eu tinha chegado lá e quem era aquela menina.
Eu morri.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Havia você e o céu, havia você e o mar... já não há.

Ficou difícil lidar com isso tudo. Sobrou meu velho vício de me submeter ao que você quer. Ossos do ofício. Pagar pra ver o invisível e depois enxergar que é uma pena, mas você não vale a pena.
Não vale uma fisgada dessa dor. Não cabe como rima de um poema de tão pequeno.
Mas vai e vem e envenena e me condena ao rancor.

Eu só sei me doar, não sei receber nada em troca. Minha eterna luta é dizer sim quando quero dizer não. É querer acabar com tudo e só saber continuar.
Não sei o que quero, só sei que não quero mais você assim. Tá na hora de mudar e escolher o que é melhor pra mim. Tá na hora de me comprometer com meu futuro e esquecer as causas fúteis de uma desesperança inútil. Tá na hora de crescer.

Então, volta ou vai embora, meu amor.










*I'm patient, but I ain't gonna try. If you don't come, I ain't gonna die.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

O tempo cura todas as feridas.

Vento nos cabelos sedosos e ruivos. Aqueles olhos verdes parecem brincar com meus sentimentos.
Não sei o que faço pra essa menina eu ter. Ela desliza num perfeito pas de bourrée. Um Pirouette em arabesque e ela tem meu coração. Minha linda balairinha que nem de minha posso chamar, sabe exatamente o que fazer pra enlouquecer os que assistem o ensaio.
Ah! como eu queria ter uma chance de beijar aqueles pés, não! aquela boca, não! ela todinha.
Ó desejo que me corrói o peito e me mata numa solidão cruel.
Minha mais perfeita bailarina caiu no chão. Dizem que ela torceu o pé e não poderá dançar mais.
Meus sonhos foram destruídos e eu nada posso fazer. Minha bailarina tristemente foi embora pra não mais sofrer e deixou a sofrer por ela.
Olhe só! Faz 10 anos que eu não a vejo, minha bailarina, lembro como se fosse ontem. Bem, ela agora é uma professora de balé infantil, e minha esposa é a bailarina principal, antes lugar da minha bailarina.
Triste é viver de saudade.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Todo fim tem um começo.

O dia lá fora parece não se importar com o que passa porta adentro. Um homem grita furiosamente com uma pequena criança que escuta silenciosamente a falta de delicadeza de um padrasto incapaz. Os biscoitos acabaram, o leite azedou, a mãe não volta há dias. Mas tudo que Elizabete consegue pensar é no quanto ela quer brincar com o baú antigo da avó. Todas as aventuras que sonha ao pegar um objeto antigo não se comparam à alegria de se sentir perto da avó que já se fora. A irmã mais velha interrompe o padrasto, grita com ele, os dois começam a discutir. Por que Liz não consegue escutar? Por que não pára a discussão e devolve a chaves do carro? Ela não sabe, ela não quer saber. A irmã corre pelos degraus da escada ao lembrar do esconderijo favorito da irmãzinha. O padrasto exausto da gritaria não conseguem fitar a criança indefesa. Olha só, aqui está. E tudo é calmaria. E tudo volta ao normal. Liz vai até a cozinha, quer estar perto da avó, quer conversar com a mãe. A faca desliza tristemente pelo balcão e pequena mão repete o que viu a mãe fazer semanas atrás. Sangue nas mãos, sangue nos pés, a faca no chão. Bis, encore, mais um.