terça-feira, 3 de julho de 2007

Todo fim tem um começo.

O dia lá fora parece não se importar com o que passa porta adentro. Um homem grita furiosamente com uma pequena criança que escuta silenciosamente a falta de delicadeza de um padrasto incapaz. Os biscoitos acabaram, o leite azedou, a mãe não volta há dias. Mas tudo que Elizabete consegue pensar é no quanto ela quer brincar com o baú antigo da avó. Todas as aventuras que sonha ao pegar um objeto antigo não se comparam à alegria de se sentir perto da avó que já se fora. A irmã mais velha interrompe o padrasto, grita com ele, os dois começam a discutir. Por que Liz não consegue escutar? Por que não pára a discussão e devolve a chaves do carro? Ela não sabe, ela não quer saber. A irmã corre pelos degraus da escada ao lembrar do esconderijo favorito da irmãzinha. O padrasto exausto da gritaria não conseguem fitar a criança indefesa. Olha só, aqui está. E tudo é calmaria. E tudo volta ao normal. Liz vai até a cozinha, quer estar perto da avó, quer conversar com a mãe. A faca desliza tristemente pelo balcão e pequena mão repete o que viu a mãe fazer semanas atrás. Sangue nas mãos, sangue nos pés, a faca no chão. Bis, encore, mais um.