terça-feira, 29 de abril de 2008

Passar bem!

Somos tudo e nada. Apenas um atalho numa longa estrada. Somos nós.
Mãos dadas, sorrisos, a cara pintada. Pintada com uma cor que não sei o nome.
Somos a meia lua, somos a rua, a multidão.
Somos a Dor e o Medo. O Amor e o Segredo. A Razão.
Nos perdemos nos amantes, nas roseiras, nas rodas cantantes.
Estivemos juntos enfim. Cada beijo, cada desejo, todos sem fim.
Agora digo tchau, meu bem, passar bem.
Hoje posso dizer que encontrei em você outro alguém.

E esse alguém me roubou o prazer de pensar em você.
E eu estive pensando no motivo e nos planos que fizemos juntos.
Sem Amor, sem Segredo, sem Razão. A nossa paixão desandou.
E você, meu amor, se acabou.

Torço para que se perca na estrada que andei com você.
Cada passo contido, cada ombro amigo, cada momento repartido, você há de reviver.
E quando voltar, já sem nome e sem lar, não mais estarei aqui.
É, eu vou me mandar, vou virar colibri.
Vou voar por aí, vou me perder no mundo.
Esquecer de você, vagabundo.

domingo, 20 de abril de 2008

Mais um.

Cansada, olhou bem as fotos do álbum já gasto pelo velho e um tanto quanto maldoso tempo. As velhas rugas já eram amigas de longa data e a pele já não ficava no lugar certo sem uma boa cinta.
Sentia sono, frio, saudade. Todos os amigos e amantes já não mais conviviam com a sombra do seu antigo eu. Fora esquecida por tudo e por todos. Exceto aquele senhor do supermercado que ainda dava sempre um bondoso Bom Dia. Ah! Ele é pago pra falar isso pra todos.
Estava louca de solidão. Andava sozinha pelas ruas em busca de algum conhecido que ainda soubesse seu nome. Qual era seu nome? Não escutava ninguém pronunciá-lo mais.
Mais um copo, mais uma lágrima. O álbum, agora jogado ao chão, estava aberto na foto que um dia foi a mais querida de todas e que hoje não passa de uma recordação levemente apagada.
Rica, velha, sozinha. O destino tanto me deu, mas tanto soube me tomar. Filhos? Que filhos? Além de nunca ter casado, ainda levava nas costas uma reputação mundana que a fez ser trocada sempre por uma dama feita pra casar.
Mais uma dose, dessa vez dupla. Já está na hora de acabar com esse meu sofrimento. Não mereço tudo isso. Tudo que fiz aos outros foram planos inevitáveis. Se não fosse eu, seriam outros. Eu mereço tudo que tenho, e mereço ter o que não tive. Sempre mereci tudo.

E então, a velha senhora, de roupão de seda e salto alto, se jogou da sacada de seu apartamento luxuoso parando o movimento de carros e de pessoas. Mesmo depois de morta, ainda conseguiu parar vidas alheias, como sempre o fez por toda sua existência.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Allegro ma non troppo

Talvez seja cedo
pra anunciar o desfecho.
Talvez seja escuro
a boca e o medo.
Destino bem claro.
Maluco desejo.
Um beijo,
um beijo.

Um olhar, um sorriso,
uma indecisão.
Estamos todos a caminho
da solidão.

Na calada da noite
estamos todos à procura de alguém.